Tenho conversado com muitas pessoas que tem o sonho de estar numa universidade. Para alguns, é um sonho distante, para outros nem tanto. Em todos os casos, existe um fascínio por estar nesse universo. A ideia de estar no universo acadêmico, de aprender, de transformar a vida a partir desse momento.
Também tive esse sonho. Ficava horas pensando em como seria fazer uma graduação, no meu caso, o sonho do curso de Direito, que significava minha chance de mudança de vida. Sou filha de uma merendeira de escola e um servidor do Daer. Nunca me faltou nada, mas, também, não sobrava. Aliás, sobrava incentivo e estímulo para estudar e muito.
Nunca tive dúvidas que iria para a universidade, que faria meu curso de Direito ou até outro na área da Educação. Essa certeza vinha da família, das primas e primos que já estavam na universidade; da Tia Cida, uma professora estadual que, com cinco filhos fez o curso de Pedagogia num tempo em que o acesso era ainda mais limitado; mas, fundamentalmente, porque só poderia ter uma vida melhor através da educação.
Fiz o primeiro vestibular de Direito da Unijuí, campus Santa Rosa. Eram nove candidatos por vaga se não me engano, mas isso nem era tanto problema. O problema era como pagar a matrícula, as mensalidades. Era um curso novo e caro para nosso padrão de vida. Meu pai foi fundamental nesse momento. Lembro como se fosse hoje: "vai lá e faz o vestibular, se tu passares, vamos dar um jeito".
E lá fui eu. Cinco provas uma por dia e, ao final o nome na lista dos aprovados. Agora, era hora de dar o jeito. Meus pais juntaram todos os "troquinhos" que tinham e daí como por uma obra divina, eu ganhei de presente de um amigo da família um valor em dinheiro que completava a matrícula. Sim, meus amigos. Foi dessa forma que consegui fazer minha matrícula no curso de Direito. Mas não bastava. Viriam as próximas parcelas. E, daí, teríamos que dar outro jeito.
Pois bem. Fui esperançosa para a universidade. Mas o curso era tão caro, que não poderia atrasar nenhuma mensalidade porque não teria como pagar depois. O jeito era conseguir um desconto, uma bolsa, um crédito. Valia tudo para continuar. Bati em todas as portas e setores. Falei com vários professores que intercederam por mim e consegui um desconto e, depois, um crédito rotativo e depois o crédito educativo federal.
Sei exatamente o que sente um aluno que precisa de um "jeito" para estar na universidade. Não é fácil bater de porta em porta buscando um desconto. Não é simples segurar a emoção, esconder o receio do redondo "não", firmar o pensamento e encarar corredores e portas fechadas. Mas essa é a única forma para muitos estar e permanecer no curso superior que, a bem da verdade, vai ser o início para a transformação de suas vidas.
Por tudo isso, democratizar o Ensino Superior tem importância na minha vida. É aquele ideal que fica batendo na nossa cabeça e no nosso coração cotidianamente. Estar na coordenação do Polo EAD da Ulbra é abrir as portas para muitos que não teriam condições de estar numa universidade, ou, em outras palavras, é oferecer um "jeito" para quem deseja realizar o sonho do Ensino Superior.
Texto: Deborá Evangelista
Advogada